segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A tragédia grega contada em números.

Foi sem surpresa que vimos pela comunicação social o anúncio de que o resultado das últimas eleições legislativas gregas seria o possível início de um colapso da União Europeia. Seria interessante ver hoje Ésquilo, Sófocles e Eurípetes a comentar a actualidade na ágora grega. O complexo do Syriza em relação à Troika faz avivar a tragédia do Rei Édipo, sendo que, certamente teremos animado conflito entre a vontade de alguns e os desígnios inelutáveis do destino.

Do ponto de vista financeiro, os últimos dias já se revelaram catastróficos: bolsa a cair, bancos a recorrerem a linhas de emergência. A questão que se coloca no futuro é se Alexis Tsipras será o "bom político" ou o verdadeiro rebelde outsider como ameaçou vir a ser aquando da campanha eleitoral.

É curioso que no país onde nasceu a democracia tenhamos hoje um governo de coligação entre extrema-esquerda e extrema-direita. Se Tsipras se revelar o "bom político" irá executar algumas medidas anti-austeridade mas num tom mais mansinho e com a Europa a caminhar ao lado. Se for radical avizinha-se uma tragédia financeira que subsidiariamente se arrastará aos confins do tecido social grego. 

Nos dois cenários penso que há um lado sempre positivo: a descredibilização da Alemanha enquanto 'dona de isto tudo'. Mesmo que Tsipras seja 'o bom político', a posição da Alemanha sai enfraquecida. É que a Alemanha domina a Europa por defeito e isso ainda fora recentemente notório no conflito diplomático com a Rússia. As críticas do Bundesbank à estratégia do BCE são apenas mais um fator notório do comando germânico. 

O espírito dominador da Alemanha é transversal a toda a história dos últimos 200 anos e talvez esta 'não rendição' grega contribua para chamar à colação essa realidade e reavivar o pesadelo alemão da II Guerra Mundial. É interessante virem os gregos falar no perdão da dívida alemã. Há 60 anos, 70 países decidiram perdoar quase dois terços da dívida externa alemã. O país duplicou o seu PIB na década seguinte.

A opção é delicada. Tsipras irá lançar o seu disco, mas será capaz de fazer estremecer o velho espírito europeu? A ver vamos. Senhoras e Senhores façam as vossas apostas, a olimpíada é de números. Por certo teremos Zorba a dançar ao som Wagner ou Demis Roussos (um dos grandes...) em covers dos Scorpions.

Imagem - Discóbolo de Mirón

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