Na senda do atentado ao jornal satírico
francês Charlie Hebdo, assistimos a um aumento da atenção dos media para com a
arte do desenho, em particular, o cartoon. Este fenómeno é curioso, na medida
em que muitas vezes este género artístico é colocado de parte muito em virtude
de ser muito radical nas mensagens e corrosivo para com os alvos, sejam eles
religiosos ou políticos.
Hoje, cada vez mais, a cultura de massas
apregoa as artes dos audiovisuais, e nesse sentido, a música, o cinema e agora
as artes gráficas de computação em vídeo - exemplo vide: https://www.youtube.com/watch?v=98skewmQMYo
- abarcam a pluralidade de buscas da sociedade nestes géneros de rápido
conhecimento e absorção.
O imediato e descartável artístico
domina. Deixamos de ser bons interpretes e bons conhecedores quando passamos a
confundir as duas coisas. Albert Einstein disse em tempos "a curiosidade é
mais importante do que o conhecimento", sendo que hoje, é predominante no
homem a procura apenas do conhecimento. Conhecimento per si não envolve paixão e isso não desbloqueia a verdadeira
essência do culto. É fascinante perceber que a arte do cartoon é, de fato, uma
arte de fiel e célere absorção, mas sempre colocada em plano inferior pela sua
ousadia e corrosão. E voltamos (mais uma vez) nós a falar em liberdade de
expressão.
Não conhecia o Charlie Hebdo antes do
dramático acontecimento. A minha vénia perante os artistas que caíram por
paixão a um ofício, a uma arte. Espero que o homem dê valor aos bons artistas
deste mundo não apenas num contexto de pesar. Penso que não será desejo da
humanidade prestar louvores a lendas e viver embebida na nostalgia. Lembrei-me
de um senhor que há uns anos me disse que não faria sentido fazer estátuas e
dar nomes de ruas a pessoas notáveis já falecidas... Com ceticismos postos de
parte pregamos em bom gáudio: Je suis curieux!
Vou tentar ser um curioso.
Imagem - Hugo Pratt, Corto Maltese, "As Célticas"
1971.
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