quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

E voltamos (mais uma vez) nós a falar em liberdade de expressão.


Na senda do atentado ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, assistimos a um aumento da atenção dos media para com a arte do desenho, em particular, o cartoon. Este fenómeno é curioso, na medida em que muitas vezes este género artístico é colocado de parte muito em virtude de ser muito radical nas mensagens e corrosivo para com os alvos, sejam eles religiosos ou políticos.

Hoje, cada vez mais, a cultura de massas apregoa as artes dos audiovisuais, e nesse sentido, a música, o cinema e agora as artes gráficas de computação em vídeo - exemplo vide: https://www.youtube.com/watch?v=98skewmQMYo - abarcam a pluralidade de buscas da sociedade nestes géneros de rápido conhecimento e absorção.

O imediato e descartável artístico domina. Deixamos de ser bons interpretes e bons conhecedores quando passamos a confundir as duas coisas. Albert Einstein disse em tempos "a curiosidade é mais importante do que o conhecimento", sendo que hoje, é predominante no homem a procura apenas do conhecimento. Conhecimento per si não envolve paixão e isso não desbloqueia a verdadeira essência do culto. É fascinante perceber que a arte do cartoon é, de fato, uma arte de fiel e célere absorção, mas sempre colocada em plano inferior pela sua ousadia e corrosão. E voltamos (mais uma vez) nós a falar em liberdade de expressão.

Não conhecia o Charlie Hebdo antes do dramático acontecimento. A minha vénia perante os artistas que caíram por paixão a um ofício, a uma arte. Espero que o homem dê valor aos bons artistas deste mundo não apenas num contexto de pesar. Penso que não será desejo da humanidade prestar louvores a lendas e viver embebida na nostalgia. Lembrei-me de um senhor que há uns anos me disse que não faria sentido fazer estátuas e dar nomes de ruas a pessoas notáveis já falecidas... Com ceticismos postos de parte pregamos em bom gáudio: Je suis curieux!

Vou tentar ser um curioso.

Imagem - Hugo Pratt, Corto Maltese, "As Célticas" 1971.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Big Brother is Watching You

  A proliferação de tanto reality show fez converter e confundir o verdadeiro significado do big brother de George Orwell no 1984.
    Felizmente para os "mais atentos", big brother continua a corresponder à ficção contida no aprisionamento totalitário de uma sociedade dominada pelo estado, segundo o qual, tudo é visto coletivamente, mas cada qual vive completamente sozinho por imposição de um regime. Nem tu nem eu escapamos aos olhos do big brother, e todos nós sabemos que qualquer atitude suspeita pode significar o nosso fim. O teu amigo é incentivado a denunciar à polícia de pensamento aquilo que longinquamente te passa pela cabeça...assustador, não é? pois é precisamente esta ficção que se transformou ao longo dos anos numa verdadeira realidade quotidiana.
         
Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.

Nada mais perfeito que aliar a esta obra literária, uma excelente banda sonóra e um grande filme, um conjunto mais que apurado.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Malik Bendjellol e "Searching for Sugarman"

Foi com grande pesar que recebemos no passado ano a notícia da morte do realizador sueco Malik Bendjelloul aos 36 anos. Foi notável o seu trabalho realizado com o documentário Sugarmar, vencedor do Óscares da Academia para melhor documentário em 2013. Confesso que, em miúdo, quando comecei a interessar-me por cinema foi crónica a opção pelos grandes filmes de Hollywood em detrimento do género de documentário. No entanto, nas últimas edições dos Óscares da Academia tenho dado especial atenção a este género que muitas vezes passa despercebido. 
"Searching for Sugarman" (tradução em português "Procurando Sugar Man"), para além de ter uma banda-sonora muito forte ao nível da musicalidade das letras escritas entre os anos 60 e 70, é um indagar pela vida desconhecida de um cantor, o qual depois da fama dos anos 70 com dois álbuns editados, foi perdido o seu rasto. 
Mas não se trata de um cantor qualquer. Malik Bendjelloul, ouviu pela primeira vez Sixto Rodriguez na Cidade do Cabo e daí despertou a sua curiosidade sobre o paradeiro do cantor. Fazendo parte do showbiz musical, a lenda sobre o seu destino desenvolveu-se ao longo de quatro décadas. Durante esse tempo, correram os boatos dizendo-se que Sixto Rodriguez se suicidou em plena atuação em palco imolando-se com fogo. 
Ouvi pela primeira vez Rodriguez no ano de 2003 através do álbum de David Holmes and The Free Association, "Come Get It, I Got It" de 2002. Na verdade, para mim a música de Rodriguez não se tratou de "mais uma faixa" da compilação como a versão da grande "Purple Haze" de Jimi Hendrix. Foi novidade. Na música "Sugarman" percebi logo que se tratava de uma voz especial. Tive a sorte de viajar à Cidade do Cabo em 2009 mas não tive o fado de Malik em descobrir a lenda de "Sugarman" por terras de Mandela.
A descoberta por entre o rasto da música de Sixto Rodriguez é o que incendeia o documentário do princípio ao fim. Malik é heroi em ter conseguido retratar uma fama que se desfez com o tempo e ao mesmo tempo trouxe-nos de volta o cantor e a lenda, essa para tirar a limpo!

Bem-haja Malik Bendjellol!!!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Tangerines - Mandariinid

         
          E porque o cinema não é feito exclusivamente de filmes estadunidenses, aqui fica o trailer de uma história passada numa aldeia estoniana na segunda metade do século XX. A guerra entre Georgia e Abecásia começou em 1992, alterando a vida pacífica dos oriundos habitantes da Estónia. A maioria decidiu voltar para sua terra natal, à excepção de alguns, um dos quais Ivo, protagonista e voz personificada  da "humanidade que há em cada um de nós".

Realizador e produtor: Zaza Urushadze
Atores: Misha Meskhi, Giorgi Nakashidze, Elmo Nüganen
Ano: 2013
País: Estónia